terça-feira, 29 de março de 2016

Carlos Luzio, pescador de tantos sonhos - I


O Carlos Luzio deixou um baú de poesia por editar e publicar.
Vai sendo tempo de acordar tanta poesia adormecida.
Doze anos antes de ir de abalada o Carlos soletrou este

Com "A" se escreve amor

Com "a" se escreve amor,
Com "a" se escreve o teu nome
Que tantas vezes tenho repetido.
Com "a" se escreve o teu apelido,
Com "a" de amor
Que partilhamos os dois.
Mas com "a" se escreve adeus
E morre o "a" quando se apaga o calor.
Não há "a" na palavra dor,
Mas aparece no final da angústia
De ser e de não ser
indiferente.
Depois renasce no "a" de ansiedade
E ganha mais força na amizade.
Por isso é que gostava de ser um artesão
Para moldar o teu rosto com a mão,
E desenhar uns lábios cor de rosa
E colorir a tua suave pele de um rude moreno,
E depois traçar no teu rosto o "a" de ameno
Para o pintar com o "a" de acariciar,
Deixando os meus dedos descer até à cintura
levando nas mãos os dois "a" de amar,
E nos meus lábios a febre da ternura
Que parece que se esquece
E que parece já não dura,
Com o "a" no final da vida
Que arrefece
Com o mesmo "a" à beira da loucura.
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- Poema datado de 24FEV92

terça-feira, 8 de março de 2016

Violência doméstica: é preciso castigar, custe o que custar

Faço questão de ser aquilo que a barra lateral direita deste bloguinho procura retratar: cão que não conhece dono, combatente de guerras perdidas, de costela anarquista e acérrimo defensor do chão que piso e dos seus símbolos.
Vem isto a propósito da premência em denunciar tudo o que seja desrespeitar o 1º dos dez mandamentos que Deus terá entregue a Moisés no monte Sinai: adorar a Mulher e amá-la sobre todas as coisas. 
Há quem não pense assim e mereça o inferno. Há, em Bustos, quem maltrate desalmadamente a mulher, a que devia ser companheira, mãe dos filhos e avó dos netos, balanço e aconchego do lar.
Como se não bastasse, essa estirpe de cães tinhosos ainda vai passando impune, que o medo ainda está instalado nas mentes acomodadas de muitas mães e avós.
Que fazer? Como reagir à continuação da barbárie?
Alvitro um de dois métodos:
a) Seguir os ensinamentos da lei penal, a qual manda que qualquer cidadão tem a obrigação de denunciar a prática de crimes públicos de que seja testemunha; e sendo público o crime de violência doméstica qualquer pessoa o pode denunciar, como vai melhor explicado AQUI.
b) Fazer justiça pelas próprias mãos, o que, por sua vez, também constitui ilícito penal.
A encomenda às escondidas deste método obriga a não deixar vestígios do ilícito à vista das autoridades. Em defesa do método até que não desanconselho outro método radical: chamar os ciganos pela calada da noite. Eu, pecador, me confesso: para mim, eles trabalham de graça, como uma vez me garantiram aquando dum mediático julgamento bem sucedido ali para os lados do Porto.
Já agora: os meus amigos ciganos são a melhor alternativa ao espalhafatoso "lobo mau", que lembrei AQUI.

Sobre o método, é só dizer, que sou todo ouvidos e até fui alferes miliciano de operações especiais, ranger dos puros e duros.

Em contraponto, há métodos violentos que não podemos evitar quando estão em causa fins nobres, como sejam os de alimentar as bocas da família e dos amigos, que são sempre os mais necessitados.
Foi o que fiz mal rompia o dia de ontem: dirigi-me ao galinheiro onde, subtilmente, com a ajuda duns enganadores grãos de milho, chamei à colação um dos três garbosos galos. Como já denunciei no facebook, em vez de contribuir para a continuação da espécie, o que tinha o ar mais gingão entretinha-se a dar bicadas nas infelizes galinhas e até num pato que se vai despedir deste mundo no próximo fim de semana.
Apesar dos protestos, submeti-o ao algoz do tradicional funil de alumínio e, zás, num golpe perfeito, esvai-lhe o sangue que aproveitei mal: com a pressa, esquececera-me do anticoagulante vinagre, o que me obrigou a comprar o dito num dos talhos locais.
Acreditem, não custou nada, que os fins justificam os meios, logo agora que caminho a passos largos para a defesa da tese de doutoramento em gourmet.
E que fins! Ao jantar, saiu-me um arroz de galo de se lhe tirar o chapéu.
Que o digam a Marina Ratola, marido Rui Capão e filho Tomás, convidados de honra, em geito de prémio pelo labor da Marina em cuidar da sempre jovem mãe Benilde (que lembro em retrato de família) e da limpeza e melhor arrumo da casa.

Sou todo ouvidos se conhecerem melhor método para dar sumiço aos galos de poleiro que não respeitam as regras do jogo, os tais que andam por aí a dar violentas bicadas nas maltratadas galinhas do nosso contentamento.
Cacarejar noite e dia, a gente até desculpa, sobretudo aos depenados galos em idade de reforma. Agora andar para aí a dar infrutíferas bicadas no mulherio do galinheiro, isso é que não se admite. Cá por mim, fazem-no para disfarçar a falta de jeito, escasseia-lhes a ternura, o trato fino, para não dizer que de tanto picarem perderam a pica, matéria que só o divã duma boa psicanalista como esta pode sarar.
Panela com eles e se for daquelas "hok", melhor: aprendi que a carne sai mais saborosa que na panela de pressão.
Aprendam, que eu não duro sempre!

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Filme luso-francês rodou cena em Bustos

Em princípios de 2011 escrevi no Notícias de Bustos um texto em que trouxe à baila a interessante história dum filme luso-francês com o título DÉDÉ, filmado em 1990 e em que aparece uma cena de baile dos anos 50 filmada no salão de baile de Bustos.
Não faltaram jovens raparigas e rapazes, a par de algumas mulheres e homens adultos de Bustos, a entrar na fita. 
Todos contratados como figurantes, a troco duns escudos.
O texto animou as hostes e deu-se o caso da discussão ter gerado luz.
Leiam-no no Notícias de Bustos, que vale a pena. Se faz favor, dêm um clic com o ratinho aqui mesmo. Vão ver que vale a pena.

(as atrizes Diana Rodelo, Gladys del Carmen e Anita Luzio)
*
Tempos depois, entreguei uma estafada cópia da cassete do filme ao sempre prestável Telmo Domingues, a fim de a tentar adaptar para CD. Sem sucesso.
Obtive a cópia por indicação do bom amigo Cipriano Nunes, que continua por terras de França. 
O Cipriano anda um pouco calado, se calhar porque Bustos tem sido tratado abaixo de cão, embora não faltem promessas de voltarmos a ser o paraíso do concelho, uma espécie de nirvana ou Changri-Lá.
A talhe de foice:
Tenho ganho algum tempo a vasculhar textos publicados no NB e aquilo é um fartote de rir quando se aproximam as eleições locais.
A razão da minha busca é simples: já se sente no ar a preparação dos exércitos partidários locais, pelo que não tarda muito e lá regressará mais uma vez a diarreia das promessas, essa espécie de "período" ou cio que ataca de 4 em 4 anos.
Não tardarão as juras de amor e outras tretas, que ficam bem, sim senhor, mas é quando nos apaixonamos assolapadamente, perdidos de amor.
Até para quem está perto das 68 bonitas primaveras (com alguns invernos de permeio) deve ter a sua graça e estou tentado em voltar a experimentar.
É certo que não será a 1ª vez, a tal que é muito saborosa, como lembrei aqui
Quanto a esta matéria, que é tabu para muitos mas de lana caprina para mim, estou com ganas de voltar a experimentar.
Ando a fazer trabalho de casa e sinto-me quase preparado para saltar para a espinha do 1º político ou política local que aparecer a prometer mundos e fundos para Bustos.
Escusam de me pedir para ser mais educado: vai ser logo ali, à frente de todos, como terá feito o cão cá de casa, de seu nome gatuso, que andou uma semana a alambazar-se com uma linda cadelita que apareceu cá na rua e que o levou com ela durante uma semana inteirinha. o sacaninha regressou ontem de manhã, escanzelado como um cão, com a dita na esteira, submissa mas com ares de quem curtiu à tripa fôrra.


Também estou em fazê-lo, a arrimar-me a eles e a elas, a não ser que os mais educados me peçam para utilizar métodos mais expeditos e civilizados, como, por exemplo, mandá-los para um sítio que eu cá sei mas que agora não digo.
Aceitam-se sugestões alternativas, como aquela de 1994, aquando dos boicotes locais às eleições para o parlamento europeu: não votámos e fizemos do boicote uma festa verdadeiramente popular.
Como se aceitam interessados na ninhada que também não tarda aí, decorridos que sejam os dois meses de gravidez canina.
A propósito, pergunto ao parisiense Cipriano: porque Paris em França e não paris em vossas casas?
Enquanto a resposta vem e não vem, vou ali e já venho...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Carlos Luzio: poesia de guerra/poesia de paz

No inesquecível almoço/espectáculo de encerramento das comemorações do Dia de Bustos, emocionado e envolvido, li o seu poema das águas, que podem reler no Notícias de Bustos.
A meu ver, mais do que a poesia do seu dia a dia de encontros felizes e infelizes, de encontros com a morte que sabia estar à sua espera de gadanha em punho, pronta para o ceifar no momento final...
...até mais do que a poesia do amor, que tão bem retratou a partir do próprio teatro da guerra colonial que viveu na fronteira norte de Moçambique no fantástico e inebriante Poema para esquecer...
...ou em Mulher da rua...
...o Carlitos deixou-nos poemas de guerra carregados de dor e raiva.
Por razões à vista, o que mais me marcou arrastei-o para o blogue que criei sobre a minha gloriosa unidade militar de intervenção em terras angolanas, a CART 3564, onde a palavra camarada fez verdadeiro sentido.
Esta companhia de criados para todo o serviço da ditadura salazarenta dependia dum tal Comando Operacional de Tropas de Intervenção (COTI 1) sediado com todas as comodidades em Luanda e que estava sob as ordens duns oficiais superiores com quem lidei diretamente durante 4 meses e que não passavam dumas grandessíssimas bestas, tudo gente tão convencida e oportunista como os nossos políticos de hoje, não fossem o ar condicionado e os demais luxos de Luanda ou de Lisboa altamente inspiradores.
O texto onde chamo o Carlos à minha guerra pode ser lido AQUI e recomenda-se.
*
Lembrar o Carlos Manuel dos Santos Luzio, o Carlitos Luzio, poeta de Bustos/de Bustos poeta...
...é lembrar que estamos vivos, mas mortinhos por viver e agir.
É lembrar que nada acontece por acaso...

...mesmo nada!
Até o futuro parece estar logo ali ao virar da esquina, a anunciar o caminho da primavera. 
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- Fotos do autor e do sempre presente e envolvido Sérgio Pato, em Bustosgrafias.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Triunfar ou perecer



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- Hino da Maria da Fonte, cantado pelo Vitorino.
- Sobre a Revolução do Minho (1846), podem começar por AQUI.
- O hino da Maria da Fonte é um Hino Nacional, de valia quase igual à Portuguesa. É usado para saudar altos cargos militares e ministros da Republica.
- Sobre o resto, puxem pela cabecinha, que ela não explode...

domingo, 31 de janeiro de 2016

Regressar às origens

A mal conhecida e envergonhadamente escondida história do movimento macknovista continua a perseguir-me, sempre pela positiva.
Vale a pena, vale mesmo a pena, lembrar um pouco da sua fantástica história:

Nestor Ivanovich Mackno nasceu na Ucrânia em 1888. Azar dele, tendo em conta que no decorrer a 2ª grande guerra (1939/45) muitos ucranianos - demasiados ucranianos - traíram a pátria soviética na justa luta contra Hitler, pondo-se ao lado dessa nojeira que foi o nazismo.
A partir de julho de 1918, Mackno passou a liderar um poderoso exército de matriz anarquista que se opôs ferozmente ao bolchevismo vermelho dos primeiros anos da revolução russa. 
Não fica mal lembrar que, antes, Mackno começou por se opor ao anticomunista exército branco que defendia o regresso ao czarismo. 
Nem branco, nem vermelho, o numeroso exército macknovista adoptou o preto, cor de eleição de qualquer anarquista que se preze.

Em maio de 1923, o anarquista russo Voline prefaciou este fantástico livro da autoria de Piotr Archinov.
O movimento macknovista foi - e passo a citar o autor do prefácio deste livro que guardo religiosamente desde 1976 - “produzido pura e unicamente pelas camadas mais baixas das massas populares, estranhas a toda a pretensão de esplendor, de dominação e de glória…
Desenrolando-se, quase sem intervalos, em condições de luta armada incrivelmente tenazes e penosas; rodeado de todas as partes de inimigos; com poucos adeptos fora das esferas não trabalhadoras; combatido sem quartel pelo partido dominante…tendo perdido, pelo menos, 90 por cento dos seus melhores participantes…o movimento deixou poucos documentos vivos.

Ao slogan bolchevista “a terra a quem a trabalha”, Mackno contrapunha um slogan muito do meu gosto: a terra é de quem a trabalha!
Se não for assim, com que alma vamos buscar forças para defender as nossas raízes?
Sem raízes nossas, plantadas por nós nas terras que nos viram nascer, sem essa matéria-prima, donde vamos alimentar a seiva que nos fortalece?
*
Em 1976, regressado da puta da guerra colonial há um par de anos, abracei de alma e coração o anarquismo puro e duro.
- É dele que guardo os restos que ilustram este blogue, aqui ao lado, na barra direita.
- Herdei dele o “cão que não conhece dono”, que o maldito vírus pirateou e agora não está lá mas há-de voltar.
- Dele herdei o contra senso da minha 1ª grande guerra, onde fiz tudo o que um verdadeiro anarquista odeia: a guerra, sem medo, por sinal armado em herói estúpido, de peito feito às balas, que a morte não era com o alferes miliciano ranger que eu exercitei, nem com os meus bravos, que um dia jurei trazer a todos, bons do corpo, mas abalados da alma.
- Por excelência, dele herdei o contraponto do Léo Ferré: "dans le coktail molotov il faut metre du martini, mom petit".
- No meio desta caldeirada de senso e de falta dele, também dele herdei uma certa imagem do torreão da ABC de Bustos, imagem retratada AQUI.

O Serginho, de sua graça Sérgio Micaelo Ferreira, bustuense de gema e agora a modos que retirado (atirado?) lá para os confins da serra interior, foi dos que acertou na mouche, me cheirou à distância e me tirou a preceito as medidas do fato que o Ti Adriano alfaiate da nossa juventude me fazia da raíz do tecido, quando anunciei pomposamente a criação do meu blogue pessoal e intimista. À data (6/8/2008), o Serginho saiu-se com esta posta.

Vê lá mas é se apareces, ó trânsfuga, que está por fazer a verdadeira revolução, a tal que ficou na gaveta quando o 25 de Abril saiu à rua!
Ou pensas que mudou o que de mais importante havia para mudar?
A mim parece-me que faz falta mudar as mentes e tantos usos e costumes do reino. 
Feita a mudança, é fácil acabar ou reduzir ao mínimo a podridão dos interesses instalados, do poder da manjedoura, dos compadrios, dos favores e da corrupção à fartazana?
Pensarás tu que tendo mudado de burro mudaste de moleiro?
Se pensas, estou como diz o povo: estás muito mal enganado!
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P.S. (salvo seja): do meu anarco-sindicalismo, até acabar no Mackno, disse muito AQUI.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Linhas de força

 
 
*
- António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, foi professor de físico-químicas.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Quando os filhos nos pertenciam - IV

Antes de voltar um dia destes para o paraíso em Unhais da Serra (H2Otel), voltei a revolver milhares de papéis, à procura eu sei bem de quê.

Voltei a encontrar preciosidades como esta, que irei publicando – cá, lá e pelo caminho – agora que o novo portátil parece estar a encarreirar, graças a um russo chamado Kaspersky. Benditos comunistas, apetece dizer.

No âmago das nossas vidas interiores, a tradição ainda é o que era:


Em contraponto, nas vidas do mundo geopolítico contemporâneo, a tradição deixou há muito de ser o que era.

Por cá, como quem assobia para o lado, os velhos do Restelo continuam a conduzir em contramão.
E não há meio de se irem embora!
É por causa deles que os nossos filhos emigram, não é filhota?
Até tu foste debandada para uma outra batalha em Waterloo, onde agora vives uma nova vida!

Se ainda estivesse na puta da guerra, desta vez (quem sabe?) não faria centenas de prisioneiros.

A ver se me percebem, embora eu seja muito de entrelinhas, subliminar
Isto anda tudo ligado.
Até as memórias da meninice dos meus filhotes, que são três, que foi a conta que Deus fez…

Fim de citações.

domingo, 8 de novembro de 2015

Guardiões dos Sabores: a tradição ainda é o que era

Como vem sendo dos usos, os Guardiões dos Sabores voltaram a reunir em Assembleia Geral, cuja ordem de trabalhos foi a degustação dos sabores dos nossos avós e aproveitar para fazer o ponto da situação da gastronomia que defendemos e cultivamos, tudo enquanto íamos degustando ou alambazando-nos à grande e à portuguesa com a cozinha tradicional.
Desta vez, o local do creme foi a acolhedora moradia da Zélia Canão/Carlos Leite, ali na Picada de Bustos. Presentes os guardiãos/guardiões: Fernando Silva, Joãozito Oliveira, Manuel Nunes, Carlos Leite, Adélio Reis, Milton Costa, Manuel Agostinho (secretário e redator das atas e futuro 1º ministro do reino dos sabores) e este vosso humilde escriba, Óscar Santos.
Faltaram, por motivos alheios à sua vontade - como usam dizer os políticos quando fazem borrada e saem de cena - os guardiãos António Romão, Rui Barata e João Libório.
Como vem sendo hábito naquele poiso, fomos recebidos principescamente.
A Zélia e o Carlos levam o esmero ao extremo, com recurso a uma equipa de verdadeiros gourmets: o cunhado do Carlos, Fernando Pinto e a sua consorte e irmã do Carlos, Conceição Leite, vindos expressamente de Oliveira de Azeméis, tal como de lá veio a deliciosa vitela, sacrificada no forno a lenha existente no bonito anexo dedicado aos bons comeres e beberes em grupo.
A Alexandra, que vive em Bustos, veio dar uma mãozinha, porque nunca somos demais para continuar o Portugal gastronómico.Tudo sob a batuta e interação da Zélia.
A Conceição (ao centro, na foto) é uma exímia cozinheira. As suas batatas salteadas, enriquecidas com alho, orégãos e o azeite dos usos, bem como os pipis estufados, caíram no céu daquelas bocas já de si esmeradas e exigentes. Até um bom queijo da serra a desfazer-se no palato ajudou ao preâmbulo do festim.
Não pensem que as delícias da terra (as do mar não fazem cá falta) se ficaram por aqui:
O mulherio, com a ajuda e permanente atenção do Fernando Pinto, submeteu ao lento crivo do forno a lenha 3 travessas de barro (houve uma 4ª, que não identifiquei), com a compositura que passo a factualizar:

- Uma, de robalo médio (300/400gr, diz o escriba, que já foi rei na matéria), recheado com pimentos vermelhos e verdes [a variedade é essencial, confidenciou-me a Conceição do alto do seu saber], a que acresceu bacon, orégãos e, desconfio, outros ingredientes que ficaram no segredo da deusa.
Para evitar o derrame do recheio, os robalos foram esventrados pelo dorso lateral, após o que foram fechados com palitos, tudo para evitar escorrências.
Na travessa de barro, os famosos e injustiçados robalos assentaram numa “cama” de vinho branco, azeite, cebola, tomate e salsa, cama essa que não se quer muito gorda, frisou a mestra.
Uma delícia! - rejubilaram os confrades, enquanto iam falando mal da política e bem das mulheres.

- As outras duas, deram guarida à tenra vitela trazida de Vale de Cambra, dos pastos dos lavradores locais que lá vão resistindo à crise, bom grado os esforços da ministra Cristas, agora em fim de ciclo.
Chegados aqui, avancemos para o esmerado tempero com que o jovem bovino foi regado.
Tudo vos relatarei até ao ínfimo pormenor, ó crentes e incréus, salvo aqueles segredinhos que os experts e chefs não gostam de revelar, seja aos crentes, seja aos ateus, agnósticos, ou mesmo aos da opus dei ou da maçonaria, seja qual for a loja em que aventalam:
Ele é alho, cebola, louro, sal, pimenta, uma malagueta de piri-piri, vinho branco e até um poucochinho de água, não vá a carne morrer à sede.
Outra delícia! - voltaram a rejubilar os confrades, enquanto se iam repetindo a falar mal da política e bem das mulheres.
Não registei o pedigree dos excelentes tintos e espumantes, que o tempo não deu para tudo, pois tive de me dividir entre a heurística da cozinha e a hermenêutica da farta mesa. E ainda tive de fazer de fotógrafo de serviço.

Mas dei nota das sobremesas, ainda que não sejam o meu forte:
Pudim caseiro (nada de fudim plan), pão-de-ló de Ovar, bolo de chocolate com café e ainda natas do céu regadas com ovos moles. Tudo matéria prima confecionada pelas mãos de fada da nossa Senhora da Conceição.
Mas que delícia! – rejubilaram de novo os confrades, enquanto insistiam em falar mal da política e bem das mulheres.

Para fechar o repasto, só faltou a Ana Sofia, filha da casa, brindar os convivas com uns acordes de flauta transversal em que é exímia, ela que integra a Banda da Mamarrosa. Fica para a próxima, se e quando a timidez se for embora.
Entretanto e como é da praxe, o secretário Agostinho lavrou a acta, que divulgarei na página do facebook dos GS, pois, ao contrário dos políticos e outros beneficiários da manjedoura, a malta não tem nada a esconder aos portugueses.
Como mandam os códigos, depois de lida e achada conforme, foi a acta assinada por todos.

São encontros destes que nos fazem esquecer que o país está de tanga para tantos e generoso demais para uns poucos.
Bem vistas as coisas, trata-se de contribuir para a recuperação, preservação e divulgação da cozinha tradicional portuguesa.
O governo - este e o que vem aí - podem cair. Os Guardiãos dos Sabores manter-se-ão de pedra e cal, que é como quem diz, de carne e peixe! 

Óscar Santos

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Os pontos nos is

Defendo com unhas e dentes a formação dum governo do PS com o apoio parlamentar do BE e do PC. A grande maioria dos cidadãos e cidadãs está farta de perceber que têm sido sempre os mesmos a pagar a crise.
Salta à vista que a solução tradicional tem sido a de depauperar a classe média e baixa, cortando nos salários e pensões e na prestação de serviços públicos essenciais. Sem dinheiro nas mãos da maioria e a sua concentração nas dos especuladores e grandes bancos ou sindicatos bancários, tutelados pelas agências de rating, o crescimento da economia nunca passará da cepa torta.
Lá no fundo, toda a gente aspira por uma mudança radical, nem que seja pela novidade. Bem no nosso íntimo, todos reconhecemos que a 1ª vez é muito saborosa. Alguma vez tinha de acontecer.
Posto isto, 
Impõe-se dar nota de alguns constrangimentos que importa não escamotear:
1º - O António Costa tomou de assalto o PS. A sua eleição como líder do partido assentou na novidade de eleições primárias, às quais foram admitidos a votar não só os militantes, mas também essa massa informe dos putativos simpatizantes.
O desafiante A. Costa cilindrou António José Seguro pela simples razão de que os seus apoiantes e apaniguados correram seca e meca para arrebanhar o voto de muita gente espúria (incluindo do PSD e CDS), a quem foi sugerido o voto no pretendente ao trono. Sem precisar de sair do nosso concelho, posso afiançar que se contam por muitas dezenas os exemplos de votos assim arrebanhados. Se isto não tresandou a chapelada, vou ali e já venho...
2º - Para as expectativas que criou, A. Costa levou pouco menos que uma banhada nas eleições legislativas de 4/10.
Se o anterior líder – o muito íntegro Tozé Seguro – foi apeado por ter ganho as europeias de 2014 por “poucochinho” (o PS obteve 31,6% e o PSD/CDS 27,71%, ou seja + 3,89%), certo é que Costa não só não obteve a almejada maioria absoluta, com ainda perdeu perante a coligação do PSD/CDS (38,36% contra 32,31%, ou seja, menos 6,05%).
3º - Provavelmente, A. Costa não arriscaria um governo à esquerda se o pior Presidente da República que o país já conheceu não estivesse em final de mandato. 
A razão é simples: o art.º 72º, n.º 1, da Constituição (CR), impede o Presidente de dissolver a Assembleia da República no último semestre do seu mandato, o qual termina a 9/3/2016.
4º - Para brigada do reumático, já nos chega a que se perfilou aos pés da ditadura em fim se ciclo quando faltavam escassos 2 meses para a ditadura cair às mãos dos Capitães de Abril.
[Os brigadeiros, certamente a entoar o hino da Maria da Fonte, que vale a pena ouvir AQUI]

Constrangimentos à parte, é incontornável a legitimidade do PS para formar governo “tendo em conta os resultados eleitorais”, como reza o art.º 187º, n.º 1, da CR.
Legitimidade acrescida porque o país precisa de mais atenção e respeito pelos valores constitucionalmente consagrados da segurança social e da solidariedade, da saúde, da educação, da cultura e ciência e do ensino.
  Valores que, com raras exceções, foram tratados pela coligação de direita como quem faz contas de merceeiro, sem ofensa para os ditos.
 
[extraído, com a devida vénia, de http://campus-cartoons.blogspot.pt/]

Venha de lá mas é o governo de esquerda, na esperança de nos trazer mais equidade e moralidade do que a apregoada nos discursos pré e pós eleitorais.
  Ele alguma vez tinha de acontecer!

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Arte tumular - Cemitério de Bustos (1884)

Refugiados de guerra em Portugal

A Europa vive o maior fluxo de refugiados desde a 2ª Grande Guerra (1939/45).
O novo ciclo de guerra e destruição que afeta a Síria e outros países islâmicos vítimas de movimentos extremistas conduziu a uma fuga sem precedentes das populações afetadas, com destino aos países da União Europeia, em especial Alemanha. A história tem destas ironias…
Este novo fluxo de refugiados merece uma reflexão ponderada, humanista e de matriz solidária, agora que, aqui e ali, se vão ouvindo algumas vozes contra o seu acolhimento.
Já agora: se acolhermos os 4.593 refugiados previstos e tendo em conta as 3.092 freguesias que sobraram depois da controversa reforma administrativa de 2013, teremos qualquer coisa como 1,5 pessoas por freguesia.
Ora gaita! Bom grado o milagre económico que agora termina o seu ciclo, não chega - nem para aí caminha - para reanimar o depauperado comércio de Bustos.
Um pouco de história

Como diria a grande poetisa Sophia de Mello Breyner Andressen, “vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar”. 
Daí fazer todo o sentido lembrar o que aconteceu em Portugal antes e durante a II Grande Guerra com a chegada do nazismo à Alemanha de Hitler.
 A vaga de refugiados a Portugal, então ferozmente dominado pelo ditador Salazar, decorreu entre 1933 e 1945 e foi resultado da nazificação da Alemanha e da invasão e ocupação da maior parte dos países europeus, sobretudo França e Países Baixos.
As estimativas apontam para cima de 100.000 refugiados que entraram nesse período, a grande maioria de passagem para países de destino final, sobretudo Estados Unidos. Só entre junho de 1940 e maio de 1941 foram cerca de 40.000.
Com Lisboa e a linha de Cascais congestionadas desses fugitivos em busca de paz e liberdade, a partir de 1942 o regime passou a encaminha-los para “residências fixas” em zonas termais ou de veraneio, nas Caldas da Rainha, Ericeira, Curia e Figueira da Foz,
Claro que a imposição dum tal regime de residência se deveu ao receio daquela estranha e variada gente poder subverter a moral e os bons costumes que o tirano achava adequados ao país miserável que governava com punho de ferro.
Como nos conta o historiador João Serra, citado AQUI, “Os refugiados fugiam de uma ditadura para uma outra, em Portugal, que não cultivava o anti-semitismo”.
De forma a percebermos melhor o drama desses cidadãos, leia-se este texto de apresentação da obra de Irene Pimentel “Judeus em Portugal durante a II Guerra”:
Havia gente de todas as condições sociais e a grande maioria foi em situação de puro desespero que aqui chegou: sem meios, sem roupa, com fome, depois de vencer dificuldades tremendas para percorrer a distância que os separava da fronteira terrestre de Portugal.
Curiosamente e tal como parece ser o presente caso de grande número dos refugiados sírios, os fugitivos de então pertenciam à classe média, alta e até à aristocracia.

Ontem, como hoje, o acolhimento de refugiados não só revela a solidariedade entre os povos, como atesta o seu grau de cidadania.
E já agora que se escreve e discursa tanto sobre ela, chamo à colação o n.º 1 do seu art.º 7º:
Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e da cooperação com todos os outros povos para a emancipação e o progresso da humanidade.
Reporto-me à Constituição da República, de que agora tanto se escreve e fala nas comunicações ao país.

sábado, 31 de outubro de 2015

A demanda dos dinossauros

Imagine que:
O CDS não existe.
Bom grado ter governado em maioria absoluta e propalar aos sete ventos que as rigorosas metas orçamentais foram cumpridas, a coligação PS/PSD perde estrondosamente as eleições para a esquerda. 
Exaurido e em coma profundo, resultado de 4 anos de austeridade à bruta, o país votou pela mudança. Esquecida a escandaleira dos desastrosos resultados duma tradição feita traição, os portugueses recuperam a saúde física e mental. 
Inevitavelmente, a despesa pública vem por aí abaixo, para o que muito contribuiu a poupança no SNS.
Como por encanto, o país anima com a inusitada recuperação do investimento e o aumento dos postos de trabalho. Afastados os velhos do Restelo, a receita dispara, bem alavancada pelo aumento das exportações e por um bem controlado aumento do consumo interno, que aforrar também é preciso.
Investidores e banqueiros rejubilam. São rosas, Senhor! – proclamam, enquanto a procissão regressa ao futuro.
Atordoado pela reviravolta do processo histórico, o tio Karl Marx salta da campa e decide ir acampar para os lados da Lourinhã, em busca dos dinossauros perdidos. 
Com ele, o inseparável amigo Frederich.
Sem surpresa, dão de caras com a matriz da sua demanda.
Enquanto o diabo esfrega um olho, o país vê erguido o maior museu do mundo de pegadas de dinossauros e outros achados arqueológicos.
E lá vamos todos depois da festa do Avante, a galopim, galopim.
Antes que se faça tarde e o comentador/candidato (que também veio de lá) chegue 1º.
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- Desenho adaptado, com a devida vénia, daqui.
- Galopim de Carvalho, conhecido como o avô dos dinossauros.

domingo, 25 de outubro de 2015

Outra vez a 1ª vez

É o que estou a viver, confesso e as razões são três:
1ª – Nunca estive tanto tempo em férias sabáticas do meu jornalinho de parede. Sabia que tinha de voltar e aqui estou de novo, cerca de ano e meio depois.
2ª – Porque “como em quase todas as coisas da vida, a 1ª vez é muito saborosa. Alguma vez tinha de acontecer”.
As palavras são dum treinador de futebol, em êxtase por ter ido ganhar à Luz, desfecho que espero não se repita hoje. Citei-o aqui, já lá vão 6 anos e meio.
3ª – Porque António Costa anuncia um acordo à esquerda, fugindo à tradição de serem sempre os mesmos a governar.
Aquando da vitória dos partidos da direita em 2011, o líder do partido mais votado anunciou que o acordo de governo com o CDS só seria conhecido após a nomeação do mesmo.
Agora, exigem que o acordo PS/BE/PCP seja conhecido já.
Contra a corrente da esquerda, sou dos que pensam assim. Em 2011, como hoje, PSD e CDS eram “farinha do mesmo saco”. Em contraponto, analisados os programas eleitorais dos 3 partidos da esquerda representados na Assembleia da República, há muito a dividi-los e a campanha eleitoral foi reflexo disso mesmo.
Venha de lá o raio do acordo pré-governativo, que eu estou em pulgas! 
Afinal, quem não desejaria viver outra vez a 1ª vez?
Ninguém vos está a pedir que se casem, basta que juntem os trapinhos, com tudo preto no branco e que fechem os olhos à sacrossanta NATO, essa coisa que apoquenta tanto os portugueses, a ponto de não os deixar dormir. Pelo caminho, não vinha mal ao mundo se engolissem alguns sapos vivos.
Entretanto, do acordo pouco ou nada se sabe.
Espera-se que a vontade do líder do PS vá além desta imagem aqui repetida:

Espera-se, sobretudo, que nos livrem duma austeridade que serviu para aumentar o índice da pobreza, à custa do enriquecimento dos grandes interesses económicos e financeiros.
Bem vistas as coisas é pouco o que o país real quer e deseja: justiça e moralidade.